Review: Dirty Shirley - Dirty Shirley (2020)


Eis a Frontiers capitalizando em cima do bom momento que vive o vocalista Dino Jelusick. No Dirty Shirley, a voz do excelente Animal Drive (leia aqui a resenha de “Bite”, álbum de estreia da banda) une forças com George Lynch, guitarrista cujo currículo só não é maior que seu talento e que o desejo que eu sinto de tocar igual a ele. Desse encontro virtual de gerações origina-se um repertório cuja principal característica pode ser encarada como seu maior defeito: a falta de direcionamento. Não que estejamos diante de um Frankenstein sonoro, mas me atrevo a dizer que foram poucas as vezes que Lynch soou tão plural, imprimindo sua marca em músicas que, sim, possuem refrão e até certo apelo saudosista, mas que não se limitam às estruturas primárias do gênero que outrora o despontou para o estrelato. Trocando em miúdos, o que temos aqui é um disco de rock que percorre inúmeros caminhos, alguns deles até meio arriscados, que acaba cativando mais pelo talento individual dos envolvidos — inclua aí o baixista Trevor Roxx e o baterista Will Hunt — do que por sua soma.

Entenda na prática: “I Disappear” só não é um martírio completo devido ao solo no qual George deixa o sangue setentista fluir, inclusive na timbragem. Aliás, vale destacar a vasta biblioteca de timbres utilizada pelo guitarrista, às vezes apenas de maneira pontual, como as pinceladas ‘clean’ na introdução da ótima “Last Man Standing”, na qual Jelusick traz à tona o seu Eric Martin interior. “Dirty Blues” é outra das boas; coisa que o Badlands não recusaria fazer caso a gravadora o impusesse a tal. Observe: ambas as citadas imediatamente acima estão na faixa dos quatro minutos de duração, o que serve de alerta para o talvez maior problema do disco: algumas músicas, como a abertura “Here Comes the King” e “The Voice of a Soul” — alguém andou ouvindo muito Black Country Communion… —, pecam no que de pior as músicas mais longas podem fazer, passando reto na curva e se acidentando no terreno das más escolhas. E como se a vida já não fosse breve demais, a bonus track da edição japonesa é um corte alternativo e estendido de “Higher”, a penúltima do repertório. Assim fica difícil defender…

Por Marcelo Vieira (Metal na Lata)

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