Review: EOB - Earth (2020)


A banda Radiohead se tornou um medalhão do rock e isso aconteceu na década de 1990. Seus três primeiros álbuns, Pablo Honey (1993), The Bends (1995) e Ok Computer (1997), são clássicos em qualquer discografia desta década revolucionária; talvez abaixo apenas de Nirvana, os anos 90 não vivem sem Radiohead.

Mas no ano 2000, a banda que lançou a obra-prima Ok Computer com sua estética complexa e com temas de letargia e alienação modernas, revolucionou mais uma vez com Kid A (2000), álbum distinto e que foi escolhido por suplementos jornalísticos como Rolling Stone, Pitchfork e The Times o melhor álbum da primeira década do século XXI.

Sim. A partir de Kid A, a banda Radiohead percorreu novos caminhos além de um “simples rock alternativo revolucionários” e com suntuosos passos no jazz, na música eletrônica e no progressivo. Depois do incomum Amnesiac (2001), Hail To The Thief (2003), In Rainbows (2007), The King Of Limbs (2011) e A Moon Shaped Pool (2016) impuseram ao mundo do rock e da música como um todo novas texturas e novos paradigmas da música moderna com degraus ainda não subidos. E por mais que a banda Radiohead não tenha uma massificação de sua música, o mainstream lhes carrega sem problema nenhum.

Mas ainda que o Radiohead seja a casa de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Philip Selway e Ed O’Brien, sair em carreira solo é uma atitude da música e do rock tão comum quanto necessária para muitos músicos. E a história está aí para exemplos e mais exemplos.

Contudo, a obra mais reconhecida dos solos dos músicos do Radiohead é com certeza o seu símbolo: Thom Yorke. The Eraser (2006), Tomorrow’s Modern Boxes (2014) e Anima (2019) são os três álbuns que York propiciou numa atmosfera eletrônica que já havia começado desde Kid A. Mas agora em 2020, Ed O’Brien, o grande guitarrista do Radiohead, adentra ao mundo dos álbuns solos e surpreende.

Earth (2020) possui 9 canções que se espalham em sentimentos e sensações ambientes. Conduzido como um rock alternativo, o álbum Earth continua a saga do Radiohead num experimentalismo rock/eletrônico/sensível. Abaixo, as canções:

  • “Shangri-la” impressiona com seu estilo atmosférico, estilo esse que Ed O’Brien sempre impôs ao Radiohead;
  • O single “Brasil”, com seus mais de 8 minutos, consegue a proeza de ser encantadoramente poética; canção essa influenciada pela estada de O’Brien no Brasil quando morou em Ubatuba-SP;
  • “Deep Days” possui uma levada sincopada na qual a bateria se destaca;
  • “Long Time Coming” é claramente um acerto na qual o violão e a voz de Ed se completam num clima paisagístico;
  • “Mass” lembra muito as guinadas progressivas que o Radiohead se colocou a partir de Kid A em diante. Também é um exemplo de ambiente com produção requintada;
  • Um dos exemplos de como O’Brien já vinha a anos escrevendo, “Banksters” reflete a crise de 2008 e é outro exemplo semelhante ao som do Radiohead lembrando de longe os álbuns In Rainbows (2007) e The King Of Limbs (2011);
  • “Sail On” é conduzida por um clima soturno regrada por uma “onda sonora”;
  • “Olympik”, um dos melhores momentos do álbum Earth, lembra muito a banda U2 dos álbuns Achtung Baby (1991), Zooropa (1993) e Pop (1997), ou seja, messianismo puro;
  • “Cloak Of The Night” fecha o álbum numa linda parceria com a cantora indie folk Laura Marling.

Se o Radiohead mudou pra sempre a música com Ok Computer (1997), a sua influência também se imortalizou na vida dos seus músicos. E com Ed O’Brien não é diferente. Earth não é um subproduto da banda Radiohead, mas sua estética possui praticamente tudo desta banda que começou alternativa, virou messiânica ao estilo eletrônico e até se compara (talvez!) com o rock progressivo e suas fusões na década de 1980. E Earth transcende tudo isso com simplicidade e beleza.

Por Eduardo Lima (Duzão do Blog)

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