Review: Blur - The Ballad of Darren (2023)

Eu e o BJ aqui do Parede somos meio reticentes aos hypes, estávamos falando sobre isso antes de eu dar start nessa resenha, afinal trata-se do aguardado retorno do Blur e durante esses dias de lançamento era só o que se falava, melhor baixar um pouco a poeira para que nada nos contamine em meio a tanto blá, blá, blá informático.

Antes do disco chegar eles fizeram duas noites colossais no antológico Wembley e desfilaram um set list impecável diante de uma arena lotadíssima, uma merecida coroação no reinado britpop.

Antes de falar sobre ‘The Ballad of Darren’ eu queria confessar, aqui entre nós, que minha balança gosto/musical sempre pendeu mais para Blur do que Oasis, sem desmerecer os cascudos Gallagher Brothers, é uma questão pessoal, não vou entrar em pormenores, mas sempre vi o Blur como uma banda mais livre musicalmente, o Oasis e seu complicado, embora criativo e genial complexo Beatlemaníaco era algo que lá no fundo me incomodava, mas vamos falar do disco.

‘The Ballad of Darren’ retoma um pouco do Blur em suas origens, soa mais solto do que seus trabalhos anteriores a ele, ‘The Magic Whip’, de 2015, último antes desse, por exemplo, era um tanto que estranho, embora ótimo.

Em determinado momento da inicial “The Ballad”, Albert versa sobre voltar a sua vida sem que algo esteja presente, nada mais maduro do que uma afirmação como essa, toda a nostalgia, todo um passado de glórias, deve hoje ser encarado de outra maneira e que isso nos sirva também, todos precisamos crescer antes que seja tarde, devemos continuar.

Chegamos em nossas meias idades e devemos nos perguntar sobre aqueles que restaram e de alguma forma ainda caminham de mãos dadas conosco, é uma canção de amor despedaçado, uma balada triste, mas linda e que expõe o que se perdeu.

Visto por esse ângulo ‘The Ballad of Darren’ é um álbum que explora a melancolia, reflexão, nostalgia e principalmente o existencialismo.

Quem pode assistir as apresentações de Wembley presenciou as lágrimas de Damon Albarn ao tocar “Under the Westway”, ressaltando a parte que diz: “O paraíso não está perdido, está em você”.

‘Paraíso Perdido’ é uma obra literária clássica de John Milton que aborda o inferno e sempre me chamou a atenção de que esse recanto amaldiçoado é mesmo algo presente dentro de todos nós e precisamos ter maturidade para fazer com que a luz brilhe em nosso interior e entendimento, é nessa canção em que ele canta seu “aleluia”, podemos encontrar um céu, algo que você, dependendo de seu ponto de vista (eu tenho o meu), possa interpretar como um lugar melhor ou algo oposto.

“St Charles Square” exala o Blur como em seu auge, disparado uma das melhores canções do disco, nela há ecos de Bowie, ecos por sinal que podem ser percebidos em vários momentos da obra.

“The Narcissist”, outro momento genial do disco chega a arriscar nuances sutis de shoegaze enquanto aborda os revezes do reconhecimento (fama) pop e suas consequentes distorções comportamentais.

“Russian Strings” também é daquelas que nos apegamos fácil, novamente muito de Bowie em seu inspirado traçado que em temática lida com nosso mundo conectado por fios e cordas virtuais e que ressaltam que não haverá nada no final, apenas poeira, um belo retrato sonoro de um mundo apenas de passagem, ilusório e de coisas cada vez mais pesadas.

Já em “Avalon” fica nítido o flerte com The Kinks em seus tempos mais inspirados pós era beat, a canção fala sobre mitos imortais e questiona-os, como questiona a própria ilha de Avalon, ligada ao rei Arthur, estaremos presentes no final? estaremos presentes antes que a obra acabe? o que faremos quando aviões sobrevoarem a nos bombardear? sobrará alguma maçã para você em Avalon?

“Barbaric” é outro momento marcante e singelamente pop em ‘The Ballad Of Darren’, novamente o Blur majestoso em canções sobre perda e resignação, e não sei porque, mas parece que sinto a presença do próprio Bowie novamente ali, como em uma participação especial ao descer de seu espaço sideral mas ainda com vestimentas de astronauta.

“Goodbye Albert” fortalece a beleza em composição, mas é impossível não perceber que Damon está tentando dizer algo sobre si mesmo a nós mesmos, algo do qual tem lutado para superar, a dor de alguma perda, uma ferida que não sara e isso é belo em um universo que nos torna de fato cada vez mais sós e sem direção, isso nos faz familiar.

“The Heights” fecha o álbum, que aliás passa rápido demais, uma canção que parece ir crescendo rumo a um clímax mais termina em estática, uma balada que fala sobre encontrarmos um caminho, caraca meu irmão, tal temática tem sido papo de altas conversas entre eu e o Brunão, o criador desse blog que vos fala: “enxergando pelo coma em nossas vidas, algo tão brilhante lá fora, você nem consegue ver, estamos ficando sem tempo? Algo tão momentâneo que você nem consegue sentir”.

Mas preciso antes de finalizar essa resenha reproduzo na integra um texto extraído do site Songtell sobre a canção “The Everglades (For Leonard)”.

"The Everglades (For Leonard)" explora temas de oportunidades perdidas, introspecção e resiliência diante da adversidade.

No verso, a letra reflete sobre os arrependimentos e escolhas que moldaram a vida do narrador. A linha "Muitos caminhos que eu gostaria de ter percorrido" sugere uma sensação de saudade de rotas alternativas ou decisões que não foram exploradas. As referências a "fantasmas vivos em minha mente" e a ideia de quebrar indicam o peso dessas possibilidades não realizadas e o preço emocional que elas cobraram.

No entanto, há um vislumbre de esperança apresentado no verso também. A letra menciona "músicas para tocar" e "graça para todos", sugerindo que ainda há oportunidades de crescimento pessoal e redenção. A ideia de “dias mais calmos” simboliza o potencial para um futuro mais brilhante, onde a necessidade de questionar ou duvidar de si mesmo pode não mais existir.

Movendo-se para o refrão, a letra questiona o estado atual do mundo. As linhas "Por que tudo neste mundo foi perdido desde então?" transmitem uma sensação de desilusão e um desejo de compreensão em meio ao caos e à confusão da vida. Apesar desses desafios, o narrador enfatiza sua resiliência e recusa em desistir ou se esconder. Ao "crescer com a dor", eles demonstram determinação para superar as adversidades e evoluir. 

A busca por significado e propósito é retratada metaforicamente na linha "Estamos procurando nos marismas, perseguindo Deus com a mudança". Os marismas simbolizam uma paisagem complexa e misteriosa, e a busca de Deus sugere uma busca por clareza, iluminação ou um propósito maior. O conceito de mudança destaca a necessidade de adaptação e evolução para encontrar realização e paz.

A linha final, "E, além disso, acho que é tarde demais", significa uma percepção ou aceitação de oportunidades passadas que não podem mais ser aproveitadas. Pode transmitir um tom ligeiramente sombrio, pois o narrador reconhece a natureza irreversível de algumas escolhas de vida. No entanto, essa aceitação também pode servir como um catalisador para o crescimento e um foco renovado em encontrar contentamento nos relacionamentos e situações da vida presentes e futuros.

Sem sombra de dúvidas uma obra fantástica que demonstra sobre toda sua musicalidade nossa própria e frágil vulnerabilidade como seres humanos em um mundo complexo e cada vez mais complicado.

Como ponto final há a imagem da capa: alguém nadando sozinho em uma grande piscina que ressaltam cadeiras em que não há mais ninguém e sob pano de fundo uma tempestade iminente chegando, mesmo que o Blur não esteja só e a arena ainda esteja lotada.

Por Nino Lee


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