Eu e o BJ aqui do Parede somos meio reticentes
aos hypes, estávamos falando sobre isso antes de
eu dar start nessa resenha, afinal trata-se do
aguardado retorno do Blur e durante esses dias de
lançamento era só o que se falava, melhor baixar
um pouco a poeira para que nada nos contamine
em meio a tanto blá, blá, blá informático.
Antes do disco chegar eles fizeram duas noites
colossais no antológico Wembley e desfilaram um
set list impecável diante de uma arena lotadíssima,
uma merecida coroação no reinado britpop.
Antes de falar sobre ‘The Ballad of Darren’ eu
queria confessar, aqui entre nós, que minha balança
gosto/musical sempre pendeu mais para Blur do
que Oasis, sem desmerecer os cascudos Gallagher
Brothers, é uma questão pessoal, não vou entrar
em pormenores, mas sempre vi o Blur como uma
banda mais livre musicalmente, o Oasis e seu
complicado, embora criativo e genial complexo
Beatlemaníaco era algo que lá no fundo me
incomodava, mas vamos falar do disco.
‘The Ballad of Darren’ retoma um pouco do Blur em
suas origens, soa mais solto do que seus trabalhos
anteriores a ele, ‘The Magic Whip’, de 2015, último
antes desse, por exemplo, era um tanto que
estranho, embora ótimo.
Em determinado momento da inicial “The Ballad”,
Albert versa sobre voltar a sua vida sem que algo
esteja presente, nada mais maduro do que uma
afirmação como essa, toda a nostalgia, todo um
passado de glórias, deve hoje ser encarado de outra
maneira e que isso nos sirva também, todos
precisamos crescer antes que seja tarde, devemos
continuar.
Chegamos em nossas meias idades e devemos nos
perguntar sobre aqueles que restaram e de alguma
forma ainda caminham de mãos dadas conosco, é
uma canção de amor despedaçado, uma balada
triste, mas linda e que expõe o que se perdeu.
Visto por esse ângulo ‘The Ballad of Darren’ é um
álbum que explora a melancolia, reflexão, nostalgia
e principalmente o existencialismo.
Quem pode assistir as apresentações de Wembley
presenciou as lágrimas de Damon Albarn ao tocar
“Under the Westway”, ressaltando a parte que diz:
“O paraíso não está perdido, está em você”.
‘Paraíso Perdido’ é uma obra literária clássica de
John Milton que aborda o inferno e sempre me
chamou a atenção de que esse recanto
amaldiçoado é mesmo algo presente dentro de
todos nós e precisamos ter maturidade para fazer
com que a luz brilhe em nosso interior e
entendimento, é nessa canção em que ele canta seu
“aleluia”, podemos encontrar um céu, algo que
você, dependendo de seu ponto de vista (eu tenho
o meu), possa interpretar como um lugar melhor ou
algo oposto.
“St Charles Square” exala o Blur como em seu auge,
disparado uma das melhores canções do disco, nela
há ecos de Bowie, ecos por sinal que podem ser
percebidos em vários momentos da obra.
“The Narcissist”, outro momento genial do disco
chega a arriscar nuances sutis de shoegaze
enquanto aborda os revezes do reconhecimento
(fama) pop e suas consequentes distorções
comportamentais.
“Russian Strings” também é daquelas que nos
apegamos fácil, novamente muito de Bowie em seu
inspirado traçado que em temática lida com nosso
mundo conectado por fios e cordas virtuais e que
ressaltam que não haverá nada no final, apenas
poeira, um belo retrato sonoro de um mundo
apenas de passagem, ilusório e de coisas cada vez
mais pesadas.
Já em “Avalon” fica nítido o flerte com The Kinks em
seus tempos mais inspirados pós era beat, a canção
fala sobre mitos imortais e questiona-os, como
questiona a própria ilha de Avalon, ligada ao rei
Arthur, estaremos presentes no final? estaremos
presentes antes que a obra acabe? o que faremos
quando aviões sobrevoarem a nos bombardear?
sobrará alguma maçã para você em Avalon?
“Barbaric” é outro momento marcante e
singelamente pop em ‘The Ballad Of Darren’,
novamente o Blur majestoso em canções sobre
perda e resignação, e não sei porque, mas parece
que sinto a presença do próprio Bowie novamente
ali, como em uma participação especial ao descer
de seu espaço sideral mas ainda com vestimentas
de astronauta.
“Goodbye Albert” fortalece a beleza em
composição, mas é impossível não perceber que
Damon está tentando dizer algo sobre si mesmo a
nós mesmos, algo do qual tem lutado para superar,
a dor de alguma perda, uma ferida que não sara e
isso é belo em um universo que nos torna de fato
cada vez mais sós e sem direção, isso nos faz
familiar.
“The Heights” fecha o álbum, que aliás passa rápido
demais, uma canção que parece ir crescendo rumo
a um clímax mais termina em estática, uma balada
que fala sobre encontrarmos um caminho, caraca
meu irmão, tal temática tem sido papo de altas
conversas entre eu e o Brunão, o criador desse blog
que vos fala: “enxergando pelo coma em nossas
vidas, algo tão brilhante lá fora, você nem consegue
ver, estamos ficando sem tempo? Algo tão
momentâneo que você nem consegue sentir”.
Mas preciso antes de finalizar essa resenha
reproduzo na integra um texto extraído do site
Songtell sobre a canção “The Everglades (For
Leonard)”.
"The Everglades (For Leonard)" explora temas de
oportunidades perdidas, introspecção e resiliência
diante da adversidade.
No verso, a letra reflete sobre os arrependimentos
e escolhas que moldaram a vida do narrador. A
linha "Muitos caminhos que eu gostaria de ter
percorrido" sugere uma sensação de saudade de
rotas alternativas ou decisões que não foram
exploradas. As referências a "fantasmas vivos em
minha mente" e a ideia de quebrar indicam o peso
dessas possibilidades não realizadas e o preço
emocional que elas cobraram.
No entanto, há um vislumbre de esperança
apresentado no verso também. A letra menciona
"músicas para tocar" e "graça para todos",
sugerindo que ainda há oportunidades de
crescimento pessoal e redenção. A ideia de “dias
mais calmos” simboliza o potencial para um futuro
mais brilhante, onde a necessidade de questionar
ou duvidar de si mesmo pode não mais existir.
Movendo-se para o refrão, a letra questiona o
estado atual do mundo. As linhas "Por que tudo
neste mundo foi perdido desde então?" transmitem
uma sensação de desilusão e um desejo de
compreensão em meio ao caos e à confusão da
vida. Apesar desses desafios, o narrador enfatiza
sua resiliência e recusa em desistir ou se esconder.
Ao "crescer com a dor", eles demonstram
determinação para superar as adversidades e
evoluir.
A busca por significado e propósito é retratada
metaforicamente na linha "Estamos procurando nos
marismas, perseguindo Deus com a mudança". Os
marismas simbolizam uma paisagem complexa e
misteriosa, e a busca de Deus sugere uma busca por
clareza, iluminação ou um propósito maior. O
conceito de mudança destaca a necessidade de
adaptação e evolução para encontrar realização e
paz.
A linha final, "E, além disso, acho que é tarde
demais", significa uma percepção ou aceitação de
oportunidades passadas que não podem mais ser
aproveitadas. Pode transmitir um tom ligeiramente
sombrio, pois o narrador reconhece a natureza
irreversível de algumas escolhas de vida. No
entanto, essa aceitação também pode servir como
um catalisador para o crescimento e um foco
renovado em encontrar contentamento nos
relacionamentos e situações da vida presentes e
futuros.
Sem sombra de dúvidas uma obra fantástica que
demonstra sobre toda sua musicalidade nossa
própria e frágil vulnerabilidade como seres
humanos em um mundo complexo e cada vez mais
complicado.
Como ponto final há a imagem da capa: alguém
nadando sozinho em uma grande piscina que
ressaltam cadeiras em que não há mais ninguém e
sob pano de fundo uma tempestade iminente
chegando, mesmo que o Blur não esteja só e a
arena ainda esteja lotada.
Por Nino Lee
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