Review: Dizzy Reed - Rock N’ Roll Ain’t Easy (2018)


Uma viagem no tempo pode ser revigorante e realmente estimulante para aparar e rejuntar arestas e acabamentos, até mesmo em um início de carreira tão tardia. A utilização de referências e influências é mais do que comum em qualquer universo artístico. O ponto básico da questão é sempre recuperar alguma coisa de tudo que foi criado anteriormente e dar um ar novo, um verniz diferente, aplicando personalidades distintas e um entendimento naturalmente mais atual. O primeiro disco solo de Dizzy Reed, de uma carreira solo bem tardia, é definitivamente contra tudo isso.

Rock N’ Roll Ain’t Easy é uma cópia descarada de Use Your Illusion (1991), disco no qual o tecladista Dizzy Reed estreou nos Guns N’ Roses e se tornou o fiel escudeiro de Axl Rose. Tudo leva a crer que Dizzy Reed parou no tempo ou tem muita saudade daqueles anos. É perfeitamente possível confundir “This Don’t Look Like Vegas” com “Right Next Door to Hell”. Partes de “Dust N’ Bones”, “Double Talkin Jive” e “You Could Be Mine” são facilmente identificadas no DNA de “Mother Theresa”, “Cheers 2 R Oblivion” e “Mistery in Exile”.


Porém, em vez do apuro e virtuose técnicos confeccionados por Slash e Matt Sorum, a banda montada por Dizzy com músicos do WASP e a presença de Richard Fortus, companheiro no Guns de Axel, entrega um resultado muito mais inconstante, às vezes exagerado e sem capricho, às vezes simplificando demais o conjunto, usando os pianos de “November Rain” e “Estranged” em “Fragile Water”, uma balada comum e em “Rock N’ Roll Ain’t Easy” que parece justificar a dificuldade de criar qualquer coisa que parecesse original.

Até mesmo nos modos de cantar Dizzy resgata a performance de Axl. Muito menos visceral, com certeza, mas configurando uma opção bem mais palatável ao que Axl apresenta ultimamente, fazendo imaginar que a turma de Slash e Duff poderia sugerir uma troca de postos na turnê caça-níquel do Guns N’ Roses. A verdade é que tudo é extremamente datado, o que pode ser exatamente o que os fãs de Guns procuram. Nesse aspecto, o disco se transforma em um registro mais atrasado que Chinese Democracy (2008), considerando que enfiá-lo na discografia da banda não é de todo estranho.


Achismos à parte, Dizzy é um ótimo músico de apoio, sempre entregando tudo muito bem feito e finalizado com louvor. Se seu disco não é a coisa mais original do planeta, também não é a pior coisa que você vai ouvir este ano. Rock N’ Roll Ain’t Easy soa alegre, pra cima, contando histórias que também eram contadas em Use Your Illusion, e que também não são tão agressivas e diretas quanto eram lá. Enquanto Axl se debatia contra imprensa, indústria, fãs e tudo que respirasse, Dizzy sugere nas letras uma percepção diferente de todos os anos que esteve ao lado de Axl. Ele acena com uma visão particularmente normal de um músico em uma das maiores bandas do mundo e se coloca em primeiro plano ao confrontar sua relação com mudanças que julga serem mais profundas.

O seu personal Chinese Democracy levou em torno de 10 anos para ser gravado completamente e do jeito que queria. Isso talvez explique a pegada retroativa e sonoridade ultrapassada, mostrando que apesar da ótima técnica musical, seu timing de compositor não é tão regulado assim. É verdade também que isso é o que você vai ouvir de melhor do hard rock nos últimos 20 anos, mas talvez isso também revele que mais difícil que o rock n’ roll, é um roqueiro envelhecer bem resolvido com o passado.

Por Eder Albergoni (Escuta Essa Review)

Comentários