Review: MGMT - Little Dark Age (2018)


Foram quase cinco anos de hiato e o MGMT parece não ter repensado em nada a carreira após o difícil de engolir MGMT em 2013. Little Dark Age, novo álbum da dupla Andrew VanWyngarden e Ben Goldwasser continua psicodélico e apostando em manobras esquisitas e ritmos quebrados, mas acertou a mão dessa vez!

Não parece que a dupla repensou a carreira e a música que estava fazendo, pois continuam fazendo um som que passa longe daquilo que podemos considerar comercial ou facilmente digerível, mas as músicas funcionam e voltaram a ter carisma. Porém, não é aquele carisma quase infantil de Oracular Spetacular (2007) e nem a ambição estética de Congratulations (2010) que excitou alguns fãs e broxou alguns outros, que queriam a continuidade da veia mais pop do grupo.


O que Little Dark Age tem é surrealismo de sobra (assista a qualquer novo clipe deles ou confira a letra de “James”, sobre uma viagem de ácido realmente vivida pelo guitarrista do grupo) e comprometimento com o sombrio, mas suave, com o que soa acessível, mas estranhamente familiar. De certa forma, dá para dizer que recuperaram uma veio pop sim, mas uma muito mais madura agora.

O que se perdeu aí no meio foi o rock. Não espere algo como “Of Moons And Birds” ou “Flash Delirium”. A guitarra é um instrumento que complementa o som do álbum, mas não toma a dianteira. Teclados e sintetizadores estão mais proeminentes, criando texturas e melodias o tempo todo. Baixo e bateria fazem um trabalho sensacional juntos, criando levadas criativas e fora da caixinha, mas sem cair no virtuosismo. “She Works out Too Much” pode não ser a melhor abertura para o um álbum, mas com certeza já deixa bastante claro como a técnica é encarada no disco: com um misto de musicianship e apelo pop. Já “TSLAMP” parece inspiradíssima por Arcade Fire, inclusive nos duetos entre Win Butler e Régine Chassagne.


O ápice do MGMT dessa vez é “Me And Michael”. Não há faixa mais cativante e, em sentido amplo, interessante de se acompanhar, seja apenas ouvindo ou assistindo a seu clipe. “When You Die” (coescrita com Ariel Pink) também tem uma veia de canção pop bastante acentuada, mas seja pela letra ou pela forma como está estruturada, garante que não seja o pop mais previsível de que se tem notícia. O estranhamento, que afastou a parcela do público que estava mais interessada no psicodelismo pop, ainda faz parte das referências centrais de VanWyngarden e Goldwasser.

Dessa forma, Little Dark Age é menos roqueiro que os álbuns anteriores e menos excêntrico, mas ainda está longe de ser um disco cheio de musiquinhas acessíveis. O trunfo, o grande acerto do MGMT desta vez, é saber ser cativante sem deixar de colocar as esquisitices ali no meio, sejam detalhes em algumas faixas ou músicas inteiras, como “Days That Got Away”, um lembrete de que o grupo tem uma estética muito própria para defender ainda.


Por fim, a volta do MGMT veio muito melhor munida de ideias e substrato de marketing do que MGMT. Quatro bons e clipes surreais lançados antes mesmo de Little Dark Age sair foram criando interesse crescente pela proposta misteriosa do duo, ao mesmo tempo em que já deixavam claro que o foco não estava no rock’n’roll, mas nas texturas e harmonias.

Goldwasser passou bastante tempo em Los Angeles enquanto VanWyngarden se manteve em Nova York. De costa a costa, trocaram ideias e influências que resultaram em um disco bastante diverso e ainda coeso. Separados por um país inteiro, o espectro político dos EUA também acabou entrando no disco na conclusão com a bela e tranquila – e californiana – balada “Hand It Over”. Trump, um grande buraco negro para a grande maioria dos artistas estadunidenses, consegue até mesmo fazer uma banda psicodélica dar um tempinho na viagem astral para dizer, no apagar das luzes dessa pequena era de trevas, qual é a situação do país.

Por Lucas Scaliza (Escuta Essa Review)



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