Quando os três Titãs remanescentes (Branco Mello, Sergio Britto e Tony Bellotto) anunciaram em 2016 que estavam trabalhando numa ópera-rock (citando como referência American Idiot, do Green Day, e Quadrophenia, do The Who), o mundo pop não levou muito a sério e caçoou através das redes sociais. Ainda que o excelente “Nheengatu” (2014) tenha feito as pazes da banda com seus tempos áureos, uma ópera-rock soava um risco gratuito. Porém, apresentado ao vivo durante o Festival de Teatro de Curitiba 2018 e lançado oficialmente em três atos e 29 musicas em maio, Dozes Flores Amarelas está ai para quem se dispor a dar o braço a torcer (e discutir). Acompanhados por Beto Lee (que assumiu a guitarra assim que Paulo Miklos pulou fora do barco) e Mario Fabre (na bateria dos Titãs desde 2010!) além das cantoras Corina Sabbas, Cyntia Mendes e Yás Werneck com participação especial de Rita Lee (narrando introduções) e Jaques Morelenbaum (arranjos de cordas), Dozes Flores Amarelas soa (sim) um bom disco de rock, mas levanta a discussão sobre homens buscando o protagonismo em pautas femininas (o que, nesse caso, soa exagerado – e o vídeo no Rock in Rio ajuda a entender o alcance do tema). Explica-se: a trama narra a história de três estudantes universitárias (Maria A, Maria B, Maria C, “interpretadas” tanto pelas cantoras Corina, Cyntia e Yás quanto por Branco, Tony e Sergio) que usam um aplicativo de celular para descobrir alguma festa para ir e, durante a noite, acabam violentadas por cinco colegas. Nesse contexto, uma das faixas mais fortes do primeiro ato, “Me Estuprem”, traz Sergio Brito cantando: “Me estuprem / A culpa é toda minha / Me desculpem / Me vestir assim / Me estuprem / Eu quis sair sozinha / Me desculpem / Por eu ser mulher”, e a canção (uma das melhores do álbum) funciona tanto como denúncia quanto reflexão. Entre os destaques (de um álbum que merece ser ouvido com atenção) ainda estão “Nada Nos Basta”, “Personal Hater”, “Essa Gente Tem Que Morrer”, “Canção da Vingança” e “O Jardineiro”. Talvez o resultado final soasse muito melhor no formato de disco conceitual, mas, do jeito que está, cumpre a função de lançar luz sobre temas que constantemente são ignorados, e precisam ser discutidos.
Por Marcelo Costa (Scream & Yell)
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