Review: Tora Tora - Bastards of Beale (2019)


Nos últimos meses, a conexão entre o Tora Tora e a cidade de Memphis estreitou-se ainda mais através da nomeação da banda como espécie de embaixadores da cena musical local; um reconhecimento simbólico e três décadas atrasado, mas ainda assim um reconhecimento à obra de Anthony Corder (vocais), Keith Douglas (guitarra), Patrick Francis (baixo) e John Patterson (bateria); quarteto que, apesar de ter se inspirado no Van Halen na hora de escolher um nome, nunca negou suas origens. Em mãos, mais uma prova disso.

A inspiração para o novo álbum de estúdio do Tora Tora, Bastards of Beale, é a cena na qual a banda deu os primeiros passos. Para quem não sabe, depois da Elvis Presley Boulevard, Beale Street talvez seja a rua mais famosa de Memphis. O apelo turístico transformou o local numa espécie de polo gastronômico iluminado por luzes de neon, mas a música ao vivo continua sendo o grande atrativo desta que é conhecida como a capital mundial do Blues. Se tem coisa que marca presença no som do Tora Tora é o Blues.

Essa veia de música negra nunca pulsou tão forte, e o resultado disso é um repertório difícil de rotular, mas, ainda assim, muito fácil de digerir. O registro médio de Corder, talvez em função da idade ou de não fazer mais muito sentido as elevações vocais a níveis estratosféricos, predomina. Sua voz permanece sendo o grande atrativo e diferencial. Não desmereçamos, no entanto, a qualidade de Douglas, que faz jus a todos os patrocínios que recebe através de riffs e fraseados que emulam desde os Jimmys (Page e Vaughan) aos Kings (Albert e B.B.).

No repertório, destacam-se “Sons of Zebedee” (caráter autobiográfico, apesar da referência bíblica — aliás, não faltam referências bíblicas por aqui), “Silence the Sirens” (como num voo, a canção decola, atinge velocidade de cruzeiro, e pousa), o momento jam com “Vertigo”, a dobradinha zeppeliana “Everbright” e “Lights Up the River” (mini-épico com pretensões de obra-prima) e “All Good Things”, cuja mensagem “o melhor ainda está por vir”, em se tratando do mundo em que vivemos, soa urgente e necessária.

Por Marcelo Vieira (Metal na Lata)

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