Review: Seis Léguas e Pouco (2023)

Na noite desta última quarta-feira, dia 22 de Novembro, boa parte da população de Pacajus se reuniu no cinema do shopping local para assistir a exclusiva exibição do curta “Seis Léguas e Pouco” (2023) produzido por Alexandre Paixão, Nágilo Menezes e por Miro Faheina, responsável também pela direção. Além disso, a data se torna ainda mais ilustre pelo fato de também ser aniversário do diretor. Poucas são as palavras existentes no dicionário para que a autora que vos escreve possa expressar o regozijo que foi entrar em uma sala de cinema para assistir a uma obra concebida em sua terra. Mesmo assim, é uma missão que vale a pena, ou melhor, vale uma “terça de cana” de se arriscar.

“Seis Léguas e Pouco” mostra em tela todos os tesouros regionalistas agradáveis de se assistir: a coloquialidade dos personagens, crença no sobrenatural e uma história ambientada na roça cearense, com personagens de química invejável e divertida. Luís (Nágilo Menezes) e Manel (Anderson Neto) relembram a irreverente dupla João Grilo e Chicó (Auto da Compadecida) tanto por seus momentos cômicos quanto pelas horas em que não conseguem chegar a um acordo. O curta mostra os dois primos cortando caminho pela mata a fim de chegarem mais rapidamente a Guarany (hoje, Pacajus) para firmarem raízes e trabalharem nas atividades econômicas prósperas da então vila.

No entanto, a paz dos dois acaba de vez quando, ao retornarem ao acampamento, descobrem o desaparecimento do cachorro de Manel, Cajá, e logo o dono do animal acusa o primo de tê-lo soltado. Os dois primos, então, se separam à procura do animal até o cair da noite. Eles só não contavam com a presença de uma criatura bestial no local. A tal ponto, o curta entrega um misto de terror e angústia, um por cima do outro constantemente.

Por fim, Manel agora precisa seguir seu rumo sozinho, restando ainda longas seis léguas e pouco para concluir o trajeto, e deixar o primo fatalmente ferido para trás. Tal qual o soldado Schofield tristemente faz com o soldado Blake no longa de guerra “1917” (2019). O mais ardiloso da dupla passa o bastão de protagonismo: A emblemática moeda de 100 réis para o primo mais inocente. E o filme já chega em seus segundo finais, recompensando o espectador atento com singelos detalhes primorosos e uma conhecida vontade de querer mergulhar ainda mais fundo na história.

Certamente é uma obra que descortina o time de grandes artistas da cidade e desacanha o potencial artístico que esta cidade abarca. Ouso ir mais além em dizer que tal acontecimento revolucionou o modo de fazer arte na cidade, já que levou um público misto de pessoas, dos somente curiosos aos entusiastas, a prestigiar um fruto de sua terra de uma maneira nunca vista antes, bem como concluir que na cidade de Pacajus, embora ainda precária e morosa de se conseguir recursos para a arte, tem idealizadores que não descansam até ver sua obra alcançar o pico máximo de onde pode ir. E algo me diz que eles não vão parar por aí — Está só começando.

Por Karol Santos (@kaslyns)


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