A produção de Jimmy Page nos anos 1980 se resumiu à trilha sonora do filme “Desejo de Matar 2”, aos dois discos do The Firm (The Firm e Mean Business), supergrupo de curta duração que formou com o vocalista Paul Rodgers (Free, Bad Company) e à Outrider (1988). No mesmo ano deste, que permanece até hoje como seu único álbum solo, Page começou a remasterizar o catálogo do Led Zeppelin para vindouro lançamento em CD. O trabalho o fez pensar que ele ainda tinha muito a contribuir e dizer na música. Mais que isso: ele mostraria ao mundo que estava vivo e com tudo em cima.
Por sugestão de John Kalodner, executivo de A&R da Geffen Records e arquiteto responsável pela volta triunfal do Aerosmith, Jimmy uniu forças com David Coverdale para trabalharem juntos num novo álbum. Desencantado com toda a estética pomposa do Glam Metal à qual o Whitesnake havia se sujeitado para permanecer em evidência, Coverdale resolvera desmanchar o grupo e, assim, distanciar-se de seu passado recente.
A dupla se deu muito bem pessoalmente – "calçamos o mesmo tamanho e fumamos o mesmo cigarro", segundo Page. O próximo passo era tentar compor em parceria, coisa que o guitarrista não fazia desde os tempos do Led. Em duas semanas, a coisa começou a verter. Com meia dúzia de músicas prontas, Coverdale e Page convocaram o baixista Ricky Phillips e o batera Denny Carmassi (Heart) para gravar as demos do que se tornaria o álbum Coverdale/Page.
No repertório, a ideias outrora rejeitadas pelo Led – o riff de "Shake My Tree" data dos tempos de In Through the Out Door; a semelhança com "Nobody’s Fault But Mine" é notável -, misturam-se momentos como "Take a Good Look At Yourself" (prima distante de "Here I Go Again" do Whitesnake), "Don’t Leave Me This Way" (que Coverdale afirmou ser a sua predileta do projeto) e, como não poderia faltar, um número épico de encerramento: "Whisper a Prayer for the Dying", épico de encerramento que pleiteia seu lugar junto às imortais "When the Levee Breaks", "Midnight Moonlight" e "Blues Anthem", três exemplos de que, em se tratando de Page, o melhor muitas vezes está no final.
A boa receptividade, posteriormente traduzida em vendas – Coverdale/Page receberia disco de platina em abril de 1995 – deu a impressão de que mais coisa sairia dali. Mas depois de algumas apresentações no Japão, que renderam bootlegs que hoje valem os olhos da cara, Jimmy e David seguiram cada um o seu caminho: de volta aos holofotes, o guitarrista acabaria reunindo-se com Robert Plant no que por muitos anos foi considerado o mais perto que se veria de uma volta do Led. Já o vocalista acabaria decidindo que calças de lycra não eram tão apertadas assim e traria o Whitesnake de volta à vida para serpentear pelos palcos mundo afora e lançar discos que, por mais que tentem, não conseguem rivalizar em qualidade com os gravados sob supostas pressões de mercado.
Por Marcelo Vieira (Metal na Lata)
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