O Oasis sempre foi marcado pela rivalidade entre os irmãos Gallagher, especialmente durante os tempos áureos da banda, ainda nos anos 1990. Dez anos após o fim do grupo mais icônico do movimento Britpop, temos uma boa quantidade de álbuns lançados pelos dois em seus respectivos trampos, o que afasta ainda mais os planos de uma reunião. Agora, o vocalista Liam Gallagher lançou seu segundo álbum solo, Why Me? Why Not, no qual se estabelece e ainda aborda algumas de suas pendências emocionais e familiares.
O novo trabalho é de uma simplicidade assumida, tanto nas predominantes baladas quanto nos eventuais rocks, e descaradamente voltado ao som dos anos 1960 e 1970 – em especial ao som dos Beatles, claro. As guitarras e violões se entrelaçam na maioria das músicas e temos arranjos de cordas que evocam um pouquinho da pompa presente nos trabalhos do seu irmão Noel. Os vocais estão bem equilibrados (na medida do possível) e as letras abordam temas intimistas com um adorável misto de esperança e ingenuidade.
A ótima “One of Us”, por exemplo, lembra a própria vertente eletroacústica e melancólica do Oasis, e tem em sua letra uma tentativa clara de reconciliação com seu irmão. A belíssima “Meadow” vai ainda mais longe e evoca um pouco de George Harrison em suas melodias criativas e clima bucólico. A boa e soturna faixa-título é grandiosa e texturizada, ideal para te levar a uma viagem mais transcendental. E a comovente “Once” traz pitadas de John Lennon em cima de uma linda letra sobre nostalgia e inocência.
Entre os rocks temos a direta “Halo”, que arrepia com suas guitarras e pianos, além de um refrão com harmonias bastante inspiradas. Já “The River” é uma pedrada que mistura letras quase políticas (sim, para o povão) com melodias psicodélicas reminiscentes dos últimos trabalhos do Oasis. E a melhor faixa é o eletrizante single “Shockwave”, um glam rock blueseiro à la T. Rex e que traz uma temática muito bem sacada sobre karma na própria vida do cantor.
Há também alguns destaques negativos. Por exemplo, a balada sombria “Gone” não consegue ir muito além da sua razoável atmosfera cinemática. E “Now That I've Found You” é um power pop tão polido e forçado que soa como o Badfinger tocando num comercial de laxante.
No balanço geral, Why Me? Why Not é o trabalho mais forte e consistente de Liam Gallagher e traz um alto nível de profundidade sonora e temática. Acima de tudo, ele celebra a boa e velha zona “retrô” de conforto do rock. Como o próprio Liam declarou: “As pessoas me mandam sair da zona de conforto. Pra quê? Encontre um assento confortável e curta a vida”. Dito e feito.
Por Fábio Cavalcanti (Pop Reverso)
Comentários
Postar um comentário
Participe! Comente! Dê sua opinião.