O Nada Surf, trio de Nova York, é adorável. Com carreira que remonta ao início dos anos 1990, os sujeitos – Matthew Claws, Daniel Lorca e Ira Elliot, mais o colaborador de outros carnavais, Louie Lino – são incapazes de lançar discos ruins. Já entregaram trabalhos como “High/Low”, “Let Go” ou “You Know Who You Are” que atestam sua consolidada habilidade em compor e gravar ótimas canções nestes vinte e tantos anos. Agora, com “Never Not Together”, o nono disco, fica comprovado que o Nada Surf atingiu um nível de excelência que o credencia para novos vôos. Como diria o Bruno Henrique, a banda agora está em oto patamá. “E por quê?”, você vai se perguntar.
Porque – eu te respondo – este novo álbum é uma declaração de amor ao espírito fraterno entre as pessoas, um atestado de que é possível se preocupar com o próximo e, mais que isso, que tal interesse abnegado e amoroso pelo outro é a chave para que possamos chegar num outro ponto da nossa trajetória como pessoas, indivíduos, espécie. O mais legal é que Claws e Lorca fazem isso utilizando sólidos e criativos modelos de canções rock alternativas noventistas, nos quais habitam ecos de Death Cab For Cutie, Weezer, Superdrag, Soul Asylum e o REM de “Out Of Time”. Todas as nove faixas têm timbres de guitarra, levadas de bateria, vocais, teclados que lembram o melhor da produção noventista no terreno daquele rock-folk-alternativo que tanto surgiu nas MTVs da vida, do qual tanto gostávamos e que sumiu.
O Nada Surf faz este modelo de arranjo/canção soar novo em folha, não só porque o álbum não tem uma única faixa ruim, mas pela infalibilidade do grupo no bom gosto dos instrumentais e vocais. É tudo muito próximo da perfeição, creia. O single “So Much Love” abre o álbum com uma levada de piano, baixo e bateria, levando a canção para uma direção previsível, mas adorável, algo que a canção seguinte, “Come Get Me”, amplia e dá novo sentido. É uma espécie de “folk-powerpop” para poucos e bons. Lembra um Teenage Fanclub mais doce, ingênuo e jovem. É de se admirar e encantar, especialmente quando entram as frases de teclado lá pelo meio da canção.
O clima ao longo do álbum vai desse jeito, com espaço para algumas baladas muito bonitas, caso de “Just Wait” (millions of souls, they’re young, they’re old”), que parece algo com o selo Oasis de belezura baladeira, temperada por vocais de apoio que quase são o refrão, e “Looking For You”, que tem clima de comercial de Natal, com todos juntos, abraçados, esquecendo as diferenças e mandando embora os nazistas, fascistas e burristas das nossas vidas. “Crowded Star” é outra faixa lenta, mas não é exatamente uma balada, com um arranjo mais tenso e paranoico, com impressão de que algo está errado e o belo verso “I was ready for change before you came”.
“Never Not Together”, o disco, atinge seu ponto altíssimo em dois momentos: “Live, Learn And Forget”, que parece uma faixa do REM mais belo e sentido, com pianos e arranjo mais polido, algo como uma “Shiny Happy People” triste e, o magnum opus “Mathilda”, quase uma ópera-rock alternativa sobre homofobia e bullying, certamente a gravação mais impactante do álbum e da carreira do Nada Surf. Se você está procurando um disco para morar em 2020, não hesite em visitar as instalações de “Never Not Together”, especialmente se você tem saudade deste rock esclarecido, vital, espontâneo e sentido. É cedo mas já dá pra vê-lo nas grandes listas de 2020.
Ouça primeiro: “Mathilda”
Por Carlos Eduardo Lima (História Por Música/Célula POP)
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