Após algumas pancadas, como que se anunciasse que uma porta seria arrombada, um clima sombrio com orquestração e coral surge e então o primeiro single: “Isolation” explode nas caixas acústicas (ou fones...) e inunda o ambiente com seu som agressivo, solos alucinados e Derrick Green cantando como nunca.
Já quando lançada durante o show da banda no Rock In Rio, dava para perceber que “Isolation” era um cartão de visitas animador e é ela que abre o disco Quadra, novo álbum do Sepultura.
Andreas já tinha explicado o conceito do disco quando lançaram o primeiro single.
“Quadra, entre outros significados, é a palavra em português para ‘quadra esportiva’ que, por definição, é uma área limitada de terra, com demarcações regulatórias, onde, de acordo com um conjunto de regras, o jogo ocorre. Todos nós viemos de diferentes Quadras. Os países, todas as nações com suas fronteiras e tradições; cultura, religiões, leis, educação e um conjunto de regras onde a vida acontece. Nossas personalidades, o que acreditamos, como vivemos, como construímos sociedades e relacionamentos, tudo depende desse conjunto de regras com as quais crescemos: conceitos de criação, deuses, morte e ética. Dinheiro, somos escravizados por esse conceito. Quem é pobre e quem é rico, é assim que medimos pessoas e bens materiais. Independentemente da sua Quadra, você precisa de dinheiro para sobreviver, a regra principal para jogar esse jogo chamado vida.”
Andreas Kisser explicou também que o álbum foi pensado como um disco de vinil duplo dividido em quatro partes diferentes para cada um dos quatro lados.
O lado A é o Sepultura mais tradicional da fase Derrick Green.
Rápido, pesado e brutal com Eloy Casagrande demonstrando porque é um dos melhores bateristas do planeta.
Paulo Jr. e Andreas constroem paredes espessas de peso dando ao ouvinte uma sensação de pesadelo.
Oba!
“Means to the End” ( que entrada de bateria!) e “Last Time”, o segundo single completam o lado sem deixar o ouvinte respirar.
O que seria o lado B começa com uma batida tribal remetendo o ouvinte por alguns momentos ao clima de Roots.
“Capital Enslavement” tem intervenções de cordas agressivamente colocadas no centro da música. É rápida, percussiva e extremamente pesada.
Se segue o petardo “Ali”, que começa com um ótimo riff e coloca Derrick cantando de forma soterrada na mixagem como se lutasse para chegar à superfície. E quando chega...
A faixa teria tudo para ser um hit radiofônico... Se houvessem rádios que tocassem Sepultura.
“Raging Void” tem uma batida quase marcial e o baixo de Paulo faz os órgãos internos da gente dar aquela remexida de tão potente. O refrão é poderoso e ótimo para gritar a plenos pulmões nos shows.
“Guardians of Earth” abre com violões. Tensa, a faixa que dá início ao lado C tem percussão acentuada (Eloy é monstruoso!”) e um coro de vozes muito bonito até que Derrick e a banda entrem com tudo. Tem também um dos solos mais bonitos de todo o disco.
A instrumental “The Pentagram” remete ao passado trhash da banda em várias passagens absurdamente velozes e pesadas. Enquanto “Auten” fecha esse lado sendo a mais pesada e gritada do disco.
No último lado, Andreas abre contagem para a linda faixa que dá título ao disco. Surpreendente, é quase uma vinheta e faz sentido estar naquela posição do álbum já que a próxima música é algo que, sendo uma canção do Sepultura, dificilmente alguém chamaria de balada, mas é isso. Ou quase.
“Agony of Defeat” com seus quase seis minutos é a maior do disco. Grovada, meio lenta e arrastada é a que melhor conversa com o álbum anterior da banda.
O refrão vem acompanhado por um coral que empresta um ar épico à canção.
De boas? É arrepiante!
“Fear, Pain, Chaos, Suffering” fecha o lado e o disco mantendo o clima arrastado e sombrio.
A música tem Derrick dividindo os vocais com Emily Barreto do Far From Alaska. Ficou ótimo!
O responsável pela capa é o artista Cristiano Menezes da Darkside Books e Kisser a explica dizendo que a moeda traz a efigie do crânio de um senador representando o conjunto de leis que nos rege e o mapa mundi representa as fronteiras das nações, com linhas imaginárias separando pessoas por conceitos de raça e crenças.
Em quase 52 minutos de duração, o Sepultura trouxe um disco digno de figurar entre os melhores da banda.
Rápido, pesado, inventivo e inquieto, Quadra é grandioso, mas sem ser grandiloquente e impressiona ao mesmo tempo que mostra que discos conceituais podem sim ser divertidos sem se arrastar por passagens instrumentais masturbatórias e pouco relevantes ao conjunto da obra.
Por Ron Groo (Musique-se)
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