A luta para encontrar música em um mundo com opções demais e sem comunidade suficiente
Houve um tempo em que a MTV dominava nossas vidas, quando ela dominava não apenas nossos hábitos de ver e ouvir e nossas conversas, mas todo o nosso mundo musical. Inúmeros artistas destacaram-se com a ajuda do monólito básico dos cabos e, para muitos de nós, foi a força musical dominante que pintou os números de nossas vidas com pinceladas coloridas e caóticas.
Mesmo os fanáticos mais fervorosos do underground podem admitir que devemos muito à famosa "Music Television" porque ela deu ao mundo muitos dos artistas sem os quais não poderíamos imaginar nossas vidas. Não importa o quão punk rock você seja, a MTV nos apresentou a muitos dos artistas que, ainda hoje, nos definem. De Michael Jackson e Madonna ao Nirvana, Limp Bizkit, e Pantera. De Tupac a N'Sync. Quaisquer que sejam seus sentimentos pessoais em relação a esses artistas, a MTV abriu muitas portas para gêneros, e esta novidade nos fez ver subculturas com olhos novos e atentos.
Quando a MTV estava prosperando, nós não tínhamos a Internet como a conhecemos hoje. Também não tínhamos smartphones. Aquele tecido de conexão com o mundo não estava lá. A maioria das crianças não teve a sorte de crescer com uma cena underground próspera e certamente não conseguiu descobrir a história de um gênero através de alguns vídeos do YouTube.
O formato 24 horas da MTV permitiu que as pessoas adotassem um estilo de música graças ao que estava sendo tocado e quando estava sendo tocado. Havia a magia de pegar um vídeo no meio da noite, apaixonar-se pela música e, imediatamente, correr até a loja de discos local, jogar-se ao vendedor, implorando por mais do que quer que fosse aquele som.
Tradicionalmente, a música nos define. Fazemos amigos com base no amor compartilhado pelos discos. Uma boa música de festa pode nos levar de volta a uma noite mágica, enquanto uma triste música country pode fazer com que um boteco tranquilo pareça muito mais solitário. Com a situação atual de hoje, temos muitas (até demais?) escolhas. Mas estamos com falta dessas experiências culturais compartilhadas. As ondas de descobertas musicais não estão acontecendo como antes; tudo é um mercado de nicho.
Era divertido para os posers quando o Metallica lançava um novo vídeo ou quando o Grunge assumiu culturalmente o controle. Isto criou uma conversa entre estranhos e foi um assunto de conversa muito melhor do que o que está acontecendo no The Masked Singer. Como a nossa política, tudo existe em uma câmara de eco; não estamos mais compartilhando um espaço para encontrar coisas. Ligamo-nos diretamente a uma playlist do Spotify e deixamos que ela faça o trabalho. Não há mágica inesperada. Não é rock and roll. Não há riscos.
É por isso que a MTV, ou alguma forma dela que funcione, precisa retornar.
É bom ter tudo ao alcance de nossos dedos. O YouTube está pronto, o iTunes está ao seu dispor, mas há opções demais. A MTV funcionou porque o Headbangers Ball, YO! MTV Raps, Alternative Nation e 120 Minutes fomentaram uma comunidade.
Esses programas funcionaram com a simples premissa de que se você gosta disso, deixe-nos lhe mostrar mais coisas desse tipo. Há blogs com curadoria para gostos e algoritmos que nos ajudam a descobrir artistas similares, mas a experiência cultural compartilhada do vídeo musical, sem saber o que viria depois, o carisma do apresentador... Todas essas coisas tiveram um papel no crescimento da música. Há valor nessa magia.
Sim, há uma discussão a ser feita sobre quem teve a sorte de destacar-se. Ainda assim, para cada Pearl Jam, Nirvana, e Alice in Chains que disparava para o topo da indústria, artistas como Tad, Meat Puppets, Mudhoney, e L7 também tiveram suas chances de estar na frente das pessoas. Poderíamos nos conectar com bandas de forma holística, mesmo por procuração. Assim, embora nem todos recebessem a mesma recepção, havia pelo menos uma chance a ser dada.
Nada como esses programas existe hoje em dia. Não temos apresentadores. Temos cabeças falantes que dizem besteiras com firmeza, porque eles andam com anúncios da Pepsi vendendo música pop que soa como um comercial da Pepsi.
Estamos mimados com a quantidade de música fantástica que existe por aí. Se você tem um gênero favorito, existe alguém mandando a ver com ele. Isso também é parte do problema - algumas dessas bandas como JD McPherson, Patrick Sweeny, Rival Sons, Black Pumas e inúmeras outras, merecem ser maiores do que são. JD McPherson sozinho deveria ser um rival dos The Black Keys, mas simplesmente não é. Bandas de metal como Power Trip ou Gatecreeper deveriam ser proeminentes; o mesmo vale para inúmeros artistas dos gêneros punk, hardcore e hip-hop.
Há uma tonelada de hip-hop underground do bom que não está chapado com lean e coberto com tatuagens feias no rosto. Mas por alguma razão, o algoritmo do Soundcloud não os encontra, apesar de ter as ferramentas para transcender.
Não há uma plataforma culturalmente dominante para as pessoas que amam seu gênero sentarem e deixarem o capitão assumir o volante. É por isso que o Headbangers Ball funcionou - os metaleiros são leais ao gênero. Mesmo que você seja um velho de cabelo grisalho que gosta de outras músicas hoje em dia, você sempre terá um carinho pelo metal; o estilo exige esse coração e alma, e aqueles que o amam, cedem de bom grado.
Headbangers Ball prosperou ao entender essa devoção. Um metaleiro comum pode se queixar e reclamar de thrash ou black metal se ele for um fã fervoroso de metal. No entanto, eles ainda verificarão de bom grado o que for sugerido porque a música está dentro de seu gênero preferido. Por causa dessa lealdade, eles têm a mente aberta para checar coisas novas e fazer o hip para bandas novas. Os outros programas especializados mencionados acima fizeram o mesmo para fãs de outros gêneros.
Lembro-me de bandas como Refused, At the Drive-In, e Blur tendo vídeos que me deixavam de queixo caído. De "The New Noise" a "One Armed Scissor" e "Coffee and TV", todas essas músicas apareceram aleatoriamente no meio da noite nos meus vinte e poucos anos e me fizeram questionar tudo sobre o que eu procurava no rock and roll.
Por outro lado, YO! MTV Raps parecia uma festa, uma chance para os rappers virem, de forma freestyle, e explicarem sua visão de mundo, algo que programas de rádio como Sway e o Breakfast Club estão fazendo no YouTube. E ironicamente, Sway era um VJ da MTV na época. Esse DNA é definitivamente onipresente.
Com todas as opções de streaming, para canais especializados, uma versão da MTV voltada para a música poderia fazer um retorno cultural? Será que as crianças a adotariam? Considerando o quão hiper enfraquecidos nossos padrões culturais estão, acho que a ideia de realidade compartilhada é peculiar, mas também possível e necessária. Se você está lendo isto, você ama música. Então, por que não podemos nos reunir como esquisitões, deixar a TV ligada a noite toda, conversar sobre fast food e esperar por aquele momento de pura fúria do rock and roll para nos surpreender?
Pode parecer primitivo, mas isso não soa um tanto quanto maravilhoso?
Por Robert Dean
Tradução: Gabriel Nogueira
Texto do portal Consequence of Sound publicado em 19 de janeiro de 2020.
Massa!! Bons tempos da boa & velha MTV!!!
ResponderExcluirA boa & velha MTV!
ExcluirConheci muita coisa assistindo a MTV... Foi uma das coisas que fizeram eu me ligar não só no Rock mas também em todo o cenário musical Brasileiro.
ResponderExcluir23:26
ExcluirTeve um papel muitíssimo importante na formação musical de várias pessoas!