Review: The Pretenders - Hate For Sale (2020)


No ano em que o primeiro álbum de estúdio dos Pretenders completa 40 anos de lançamento, a banda anglo-americana de rock retorna com um disco curto, rápido, direto e despretensioso que honra suas raízes Punk. Lançado em 17 de julho de 2020 via BMG, o sucessor de Alone (2016), Hate For Sale, conta com Stephen Street (Blur, The Cranberries) na produção e o retorno do baterista Martin Chambers, presente na primeira formação da banda. Com guitarras incisivas e alternando entre baladas e canções mais agitadas, é um trabalho próprio para os dias atuais, nos quais as pessoas pouco podem (ou querem) se dispor a ouvir um disco longo e cheio de nuances. Necessário pontuar que pouco se nota a passagem do tempo para Chrissie Hynde, sendo que a vocalista continua a ter uma voz tão potente quanto nos primeiros álbuns.

O álbum inicia com a explosiva faixa-título, “Hate For Sale”. Uma canção bastante acelerada, agitada e, obviamente, barulhenta como uma canção Punk deve ser, além da presença de uma gaita, o que garante um clima descontraído. A faixa remete às canções do início dos primeiros discos e serve como uma boa apresentação, além de introduzir o estilo que seguirá no decorrer da audição. Embora alguns tentem dar alguma conotação política à letra, Chrissie Hynde garante que se trata de uma temática acerca dos relacionamentos amorosos.

“The Buzz” é uma balada agitada com uma pegada muito envolvente; trata-se de um dos pontos altos do disco sendo impossível não se sentir instigado pelo som das guitarras. Já “Lightning Man” é uma faixa mais puxada para o Reggae e um tanto soturna. Embora quebre um clima que vinha sendo apresentado até então, não deixa de ser uma canção interessante.

Retomando o vigor, temos “Turf Accountant Daddy”; uma canção com bastante peso nas guitarras e bastante influência do Britpop – com uma sonoridade que lembra em muito o Blur da época de Parklife (será influência do produtor?) -, além de apresentar um baixo marcante nas estrofes e uma bateria pulsante de Martin Chambers. Merece atenção a presença do teclado à la New Wave de Carwyn Ellis, que dá um charme à faixa.

Encerrando a primeira metade do álbum e alternando novamente entre passagens efusivas e outros não tão intensas, temos a balada “You Can't Hurt A Fool”. Apresentando uma leve influência de Soul Music, é uma faixa em que Chrissie Hynde interpreta transitando entre momentos suaves e outros de total potência vocal, acentuando o caráter emotivo da canção.

“I Didn't Know When To Stop” retoma o ritmo acelerado. Um típico Punk permeado por guitarras agressivas, riffs ligeiros. Há também um solo curto, porém vigoroso. Destaque para Chrissie Hynde cuja intepretação traz um ar de ironia e sarcasmo além da presença certeira da gaita.

“Maybe Love Is In N.Y.C.” é uma faixa que lembra “The Buzz”, embora seja mais melancólica. A canção alude às baladas de rock dos anos 70 e se apoia na potência das guitarras (destaque para o solo incrível). É certamente mais um ponto alto do disco.

“Junkie Walk” soa como se fosse quase uma brincadeira. Com um riff distorcido, simples e um refrão intricado e repetitivo; é uma canção animada, rítmica e, sem dúvidas, a mais dançante do álbum.

Com ecos do hit “Don’t Get Me Wrong” de 1986, “Didn't Want To Be This Lonely” carrega influências do Rockabilly e mantém o clima empolgante e dançante da faixa anterior. Com uma percussão cativante e uma guitarra com influências do Country, é uma canção que transporta o ouvinte direto para os anos 80 e encanta pela melodia e pelo ritmo, sendo mais um destaque do disco.

E encerrando o álbum, temos a balada “Crying In Public”. Regida por um piano e contando com um arranjo de cordas, é a faixa mais sentimental do disco, em que Chrissie Hynde expressa toda a sua emoção por meio da sua interpretação marcante. O timbre de Hynde é forte e ideal para canções um pouco mais dramáticas e aqui cai como uma luva ao cantar sobre a solidão feminina, fazendo assim desta um perfeito encerramento.

Por ora, não é possível afirmar que Hate For Sale entregará um hit definitivamente marcante na discografia da banda e para os fãs do quarteto – inclusive, a ausência de uma faixa especialmente marcante é algo a ser considerado; contudo, é certo de que se trata de um disco coeso, agradável e levemente divertido. Trata-se de um trabalho no qual os Pretenders demonstram competência e provam que ainda têm muito a mostrar ao público.

OBS: A gravadora BMG disponibilizou um site especial para o lançamento de Hate For Sale, em que é possível personalizar um poster baseado na arte gráfica do álbum. Vale a pena conferir!


Por Gabriel Martins

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