Os suíços da Grauzone conseguiram um relativo reconhecimento no Brasil durante a década de 80 graças a uma coletânea lançada por aqui em um esforço da lendária radio carioca Fluminense FM.
A compilação de nomes obscuros até então foi lançada em 1983 e ganhou o nome de “German Rock”, na época o disco virou item fundamental a todo descolado de plantão, correu livre entre fãs de tecno pop, new wave e surf rock, mas acabou muito distante de causar impacto comercial.
Entre as 10 bandas selecionadas para o disco estava a Grauzone com a clássica “Eisbar”, um hit instantâneo da New Wave e é deles que vamos falar um pouco agora.
Logo se percebe que não eram alemães, mas o que então os colocou num disco dedicado a bandas da Alemanha?
A resposta é porque “Eisbar” entrou nas paradas de sucesso por lá, uma fama que transitou meteoricamente entre a Alemanha e a Áustria.
A banda foi formada em 1979, depois que Marco Repetto (bateria) e GT (baixo) deixaram a banda punk Glueams para formar um novo grupo chamado Grauzone, com Martin Eicher (guitarra, vocal, sintetizador).
Ao vivo eles contavam com as participações de Stephan Eicher (guitarra, sintetizador), Max Kleiner e Claudine Chirac (saxofone).
Mas palavras de Marco Reppeto um pouco sobre o surgimento da Grauzone: “ – A Glueams estava tendo êxito mas acabamos brigando, tinha uma coisa de ciúmes por causa da cantora. Além disso, o gosto pelo punk estava ficando obsoleto para mim, a coisa toda começou a ficar muito uniforme. Passei alguns meses em Londres e descobri uma nova vibração. Eu estava vendo bandas como Siouxsie and the Banshees, The Psychedelic Furs, Cabaret Voltaire ou Fad Gadget e também havia muita música eletrônica em clubes como Marquee, Music Machine, Dingwalls ou Lyceum. Quando voltei para Berna, minha mente estava pronta para fazer algo novo.” – Conta Reppeto.
“Eisber” foi gravada no ano seguinte e debutou em disco na coletânea “Swiss Wave – The Album”, emplacando de imediato nas rádios de alguns países europeus, sem que a banda fizesse ideia da dimensão em que a coisa toda estava, para a gravadora tudo indicava que seria uma historia promissora.
A canção logo virou um single de 45 rotações com cerca de 500 mil copias vendidas, tudo isso acontecendo longe do lugar aonde estavam.
Sobre a criação de ‘Eisber’
“Eisber” foi inspirada por um pesadelo que Martin teve: em seu sonho, ele viu ursos polares falantes nas paredes. As linhas dessa música foram direto para o coração das pessoas. Capturou muito o Zeitgeist para aquela geração. Aquele sentimento. Foi também uma despedida dos velhos tempos do punk, musicalmente, estávamos nos tornando mais ambivalentes. Algo frágil estava tomando seu lugar, algo mais delicado.” – Complementa Marco.
O sucesso não veio da noite para o dia, o estouro da boiada veio meio ano depois, após um telefonema da EMI de Munique. Eles nem faziam ideia do que estava acontecendo.
“ -Na verdade, alguém teve que me dizer: “Ei, Marco, vocês estão no Hit parade!” Um cheque chegou, minha divisão foi de 16.000 francos suíços. Foi a primeira vez que ganhei dinheiro com música. E também uma das poucas vezes que ganhei dinheiro com uma gravação do Grauzone. Sendo ex-punks, na verdade nunca ligamos para nenhum contrato. Então, de certa forma, a Grauzone se tornou um sucesso e nós nem sabíamos em Berna. Mas já era tarde demais para a banda.” – Continua Marco.
A banda no entanto lançou apenas um álbum, “Grauzone (D No. 37)” em 1981.
“Grauzone (D No. 37)” emplacou canções como “Film 2”, “Wütendes Glas” e também reforçou o embalo ao colocar “Eisber” na obra, o daria errado?.
“ Não conseguimos lidar com a pressão. GT e eu não conseguimos nos apresentar como músicos honestos de acordo com os padrões da indústria ou da gravadora. Não estávamos limpos o suficiente para este negócio, mais como vagabundos. Quando “Eisbär” se tornou um hit, a banda já estava desmoronando. Nós ainda gravamos um álbum, no entanto. Ao todo, nós tocamos apenas dez shows e não foi possível ir adiante. – Finaliza o baterista.
No entanto o tempo fez justiça ao Grauzone e seu disco que 40 anos depois foi relançado em vinil duplo com extensas notas de encarte e incluindo 9 faixas bônus. O lançamento também vem como um CD digipak contendo as mesmas faixas do disco duplo (incluindo as 9 faixas bônus).
Um boxset também foi lançado e supervisionado pelo membro original da banda Stephan Eicher incluindo o disco de aniversario, livreto de 80 páginas, um LP exclusivo de 9 faixas ao vivo (a maioria com faixas inéditas), encarte com todas as letras e adesivos.
Alguém sabia disso?
Por Nino Lee Rocker (@garimpeirodasgalaxias)
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