Dica do Garimpeiro das Galáxias: The Wondermints - Bali (1998)

“Bali” é o terceiro disco da banda americana de power pop The Wondermints, sem sombra de duvidas um dos discos mais  arrasadores e transcendais do gênero e também um dos mais subestimados, infelizmente.

Na verdade eles acabaram mais conhecidos como a banda de apoio de Brian Wilson em seu triunfal retorno do que pelo trabalho autoral que registraram em seus 4 álbuns, injusto, mas eles nunca se preocuparam muito com isso, o que sempre falou mais alto era produzir musica e das boas.

Ao longo das 13 faixas que permeiam a obra há um verdadeiro desfile de referencias que exalam ares de The Who (Sell out), Beach Boys (Pet Sounds), The Beatles, Badfinger, Grapefruit, The Zombies (Odessey and Oracle) e Big Star. Tudo isso acrescido com pitadas de chamber psych, neo psych, art rock, Henry Mancini, Burt Bacharach, trilhas de antigos seriados televisivos e o power pop psicodélico que consagrou nomes como XTC, Jellyfish, Fountains of Wayne, The Lickerish Quartet, Jason Falkner, Robert Joseph Manning, jr e The Squires of the Subterrain… ou seja um desbunde!.   

Lançado em 1998,  eu lembro que levei uns dois anos até me deparar com ele e na época eu costumava visitar muito o pessoal da Cachorro Grande em inicio de carreira, trocávamos muitas figurinhas com os achados que ambos os lados possuíam, “Bali” e o primeiro álbum de Billy Nichols chamado “Would You Believe” (uma tentativa de resposta inglesa ao Pet Sounds que acabou no ostracismo) foram descobertas que fiz e acabaram degustadas ao máximo em nossos  encontros e não só fizeram totalmente as nossas cabeças como também a de  Júpiter Maçã, nosso amigo em comum e ícone psicodélico gaúcho.

Ainda distantes do advento das plataformas de streaming as descobertas eram mais difíceis e talvez por isso muito mais apreciadas do que nos dias de hoje em meio a esse enxame de informação, ouvir “Bali” na integra era como provar de um vinho raro e de safra mais do que especial.

O guitarrista Nicky Wonder e o tecladista Darian Sahanaja formaram o The Wondermints em 1992, ambos sempre foram um legitimo caldeirão de conhecimento musical sixtie, principalmente Nicky, não havia nada que ele não conhecesse naquele vasto universo e o talento musical tanto da dupla quanto de todos os outros membros que passaram pela banda sempre foram de uma profundidade ímpar.

Evidente que eles foram o braço direito de Brian Wilson durante muitos anos, tanto é que podem ser ouvidos em discos e dvd’s como Live at the Roxy Theatre, Brian Wilson on Tour, Pet Sounds Live, Brian Wilson Reimagines Gershwin, Pet Sounds Live in London e nos álbuns de estúdio Gettin’ in Over My Head, Brian Wilson Presents Smile, That Lucky Old Sun (álbum) e No Pier Pressure além de todas as tours ao lado do eterno Beach Boys, nunca houve muito tempo para vermos os Wondermints em ação com suas canções, uma pena.

Bali, a obra-prima da banda estava tão orgulhosamente fora de sintonia com a eletrônica e o rap-rock da época que apenas pequenas gravadoras independentes no Reino Unido e no Japão consideraram lançá-lo.

Que os seguidores dos Wondermints nunca tenham se expandido além de um culto pequeno (embora internacional) é uma das grandes injustiças da história da música do final do século XX, início do século XXI – embora também, infelizmente, completamente previsível.

Volta e meia surge algo que exala tanta psicodelia que é logo visto como incomum, tal similaridade pode causar furor nas mídias ou acabar sendo considerado ultrapassado, mas no caso de “Bali” a excelência do trabalho é tanta que, uma vez que alguém o conhece se torna incapaz de esquece-lo, se, claro, fosse lançado nos anos 60 hoje ele ocuparia a lista dos grandes clássicos atemporais, o que não foi o caso.

Nicky Wonder faleceu em 2019, aos 59 anos de idade.

Por Nino Lee Rocker (@garimpeirodasgalaxias)

Obs.: O álbum infelizmente não se encontra nas plataformas de streaming, por isso ouça no link abaixo do YouTube.


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