Entrevista PE: André Coelho, vocalista da banda Dead Ratts

O nosso convidado da vez, no Entrevista PE é André Coelho, vocalista da Dead Ratts, banda grunge/alternative rock de Pacajus, Ceará. Outro novo grupo surgindo no cenário independente cearense.

Confira o nosso papo prolongado sobre sua trajetória e, claro, falamos de Dead Ratts e do lançamento de seu primeiro single intitulado “The Frog Boys”. Vamos nessa!

Parede Elétrica: Fala André, beleza? Se apresente para os leitores do Parede Elétrica.
André Coelho: Fala galera! Meu nome é André Coelho, sou redator e músico independente, atualmente estou frente da banda de grunge/alternative rock Dead Ratts. Nascido em Belém, Pará, mas há anos vivendo no Ceará, precisamente em Pacajus que é onde meus sangue corre nas veias haha.

PE: Com quantos anos vc saiu de Belém?
André: Então, de 6 para sete anos, quando ocorreu a separação dos meus pais. Como minha família materna reside no Ceará, minha mãe buscou o retorno às origens dela e aqui foi onde começou meus passos para a música.

PE: Já que você mandou a deixa… Como foi seu primeiro contato com a música? Assim como em muitos casos, alguma música te pegou na infância?
André: Então, minha mãe e irmã sempre foram muito de rádio e eu cresci envolvido com isso, mas claro, sem um gênero definido em específico e meu velho tocava violão, então meu contato foi bem cedo. E aí, acabei despertando meu lado criativo da maneira mais “estranha” e icônica possível, entre 6° e 7° série, em uma época onde o politicamente correto era zero e as crianças, “nós”, éramos maus (risos…), o bullying rolava solto, mas era uma espécie de troca, sem mágoas, intrigas e minha arma era fazer paródias de músicas conhecidas, sempre envolvendo meus amigos a/em situações um tanto cômicas. Então, uma canção em específico anos depois, precisamente nos meus 11 anos, me puxou naquele idealismo que toda criança tem, de se imaginar um rockstar em seu quarto, e isso ocorreu com “Don´t Cry” do Guns N´ Roses.

PE: Sensacional! E quando foi que você caiu na ideia de que poderia formar uma banda? Como foi o seu início em bandas?
André: Então, eu sempre me pegava cantando, e um belo dia, fui convidado por alguns amigos que já tinham uma banda formada e com uma agenda para cumprir, falo do Karraspana, banda de hardcore da cidade e oriunda exatamente no meu bairro haha. Fui convidado para substituir o vocalista antigo, então podemos dizer que meu contato foi um tanto, acidental, até porque nunca havia lidado com palco, uma coisa é você se imaginar o Cornell (Chris) em cima da sua cama com um frasco de perfume emulando um microfone, outra é você realmente estar ali a frente de um público esperando suas músicas.

No entanto, eu diria que isso não era o que buscava, afinal a banda era totalmente envolvida na escola do hardcore, não que eu não curta, pelo contrário, faz parte da minha formação musical, mas tudo isso ocorria bem na época do “boom” do nu metal, e ali foi paixão a primeira vista. Então, cerca de quase 2 anos, ocorre que eu sou desligado da banda e com meus 15 anos eu acabo montando o que considero minha primeira banda, o Vortx, que seguia exatamente o que eu buscava, o alternative metal e ali eu sentia que estava realmente em casa.

PE: A Karraspana foi uma banda que marcou a cena de Pacajus, por volta do início dos anos 2000. Entrando agora em outro grande momento da época, como foi o período do Vortx? Qual era sua visão sobre a cena de Pacajus?
André: Então, com o Vortx, fundado por mim, Renato (Guitarra) e Adysson (Baixo), tivemos uma trajetória totalmente precoce. A banda durou apenas um ano e chegou um momento que nosso baixista precisou deixar a banda de lado para outros focos, então eu decidi encerrar as atividades ali mesmo justamente por não ver a banda com outra formação, e assim, virar um retrato de mim ou projeto pessoal.

A cena de Pacajus era rica mas totalmente movida no “Do It Yourself”. Todos éramos moleques e inexperientes em tudo. Não sabíamos administrar o dinheiro ganho com os eventos que fazíamos, nem tínhamos a dimensão daquilo e de entender que música era um produto e os festivais uma rentabilidade que poderia ser algo estável para manter as bandas e a cena. Com tudo, era divertido, por mais que houvesse atritos bobos movidos pelo ego, éramos praticamente crianças querendo ser o “rockstar da cidade”. Sobre a gama de bandas na época, era algo bem mais ativo, sempre nascia uma banda nova e um moleque querendo tocar guitarra, bem mais que os dias de hoje.

PE: A inocência da época, o tal “sonho de rockstar”, fazia bastante sentido para aquela geração. As coisas andam bem diferentes nos tempos atuais. Gravadoras impondo aos artistas gravarem vídeos curtos de TikTok. Você tem alguma opinião sobre isso?
André: Eu vejo com duas vias: ao mesmo tempo que eu acho caótico toda a ansiedade dessa geração, no consumismo rápido, onde como você bem disse, gravadoras impõem artistas a praticamente largar suas obras conceituais para se dedicar a 15 segundos de vídeos para uma plataforma, eu meio que recordo como era os anos 50, 60, onde os LP´s e seus artistas também acabavam, muitas das vezes, trabalhando apenas em duas canções. E como eu creio que a arte as vezes é sazonal, não acredito que isso vá durar. Logo, logo essa cultura desesperada por conteúdo cada vez mais comprimidos irá se extinguir. Impossível que seja duradouro.

PE: André, você teve e tem muitos outros projetos. Poderia nos contar sobre?
André: Eu acabei passando por diversas bandas da cidade, como Haffen, que foi formado por ex-integrantes do Vortx, junto de ex-integrantes do Karraspana, a banda fazia metalcore, mas tudo bem experimental. Acabei ingressando em uma banda chamada Stone Shelter, onde na verdade tive duas voltas, onde eu fiz parte da primeira formação, depois sai e acabei regressando e mudando o nome para The Sonne. Logo depois tive um projeto de pop punk, onde dávamos versões de músicas do pop como Katy Perry, Ne-Yo, Lady Gaga, entre outros e adaptávamos isso para algo meio Good Charlotte. E por fim, acabei montando uma banda de post hardcore chamada Rising For Glories, que encerrou as atividades entre 2017.

PE: Muita coisa, bastante tempo envolvido com várias outras pessoas, não é mesmo? Atualmente, você faz parte da banda Dead Ratts, que acaba de lançar o seu single de estreia “The Frog Boys”. Nos conte mais sobre isso.
André: O Dead Ratts foi fundando no final de 2019, pelo guitarrista Roni que me convidou logo em seguida e eu abracei a ideia. A banda é formada por Roni (guitarra) Natan (bateria) Jon Adonai (baixo) e por mim. Quando começamos a trabalhar nas músicas conjuntamente, veio a pandemia e tivemos de parar. Essa é a explicação do porque lançarmos algo somente 2 anos mais tarde.

Sobre nosso primeiro single, “The Frog Boys” é uma canção delicada, pois a letra é baseada em um caso real, no qual acabou me pegando pra valer e ali, me vi na obrigação quase que em um transe espiritual de escrever sobre. A canção é sobre cinco meninos que desapareceram na periferia de Daegu, na Coreia do Sul, em 1991, o caso nunca foi solucionado e somente 10 anos mais tarde, em 2001, foram encontrado os restos mortais. “The Frog Boys” é uma homenagem póstuma com duas vias: a do questionamento do “por que que coisas assim ocorrem?”, ao mesmo tempo que funciona como uma despedida.

PE: Que fato triste…
André: Pesadíssimo! De tudo que compus, creio que essa seja a canção mais densa que fiz na vida, pois eu consegui sintetizar todo o lamento. Ela é o tipo de canção que as vezes, nem é preciso ver sua tradução para saber do que se trata. O caso é conhecido como “frog boys” (garotos sapos) porque era feriado na Coreia do Sul, então eles tiraram o dia para brincar pelo bairro, daí como alguns vizinhos se incomodaram, eles acabaram indo para um lago perto, caçar sapos e ovos de salamandra e foi aí que nunca mais voltaram.

Sobre outros projetos, tenho meu projeto solo com planos para lançar um primeiro EP com 4 faixas, o projeto se chama Eight Quiet Teeth. E eu já tenho mais de 20 faixas para isso!

PE: Quando lançar, volte aqui para gente bater um papo sobre o trampo. Ok?
André: Com toda certeza haha.

PE: Realmente, o caso chocante e a letra envolvida com a melodia grunge te faz sentir a tensão da música. O caso nunca chegou a ser solucionado?
André: Infelizmente não, o caso é totalmente brutal, desde seu ato até a imprudência policial que contaminaram as cenas do crime, 10 anos depois. As famílias também reclamam da imprudência na busca dos garotos. Todo o caso é horrível e isso, me pegou pra valer. São exatos 21 anos sem que saibamos o que ocorreu com as 5 crianças de Daegu.

“Os vizinhos diziam que fazíamos barulho, não foi assim.
É por isso que me desculpe mamãe, por sair assim.
E nós nem chegamos a dizer adeus.
Não podemos nem dizer adeus.
Daria qualquer coisa para dizer adeus.
Não podemos nem dizer…”

(“The Frog Boys” por Dead Ratts)

PE: De onde vem sua inspiração para compor? Sobretudo, esses temas.
André: Essa coisa que tenho de sempre compor algo forte, mas nem sempre autobiográfico, veio por causa e efeito do título de um álbum, Songs For You, Truths For Me (Canções para você, verdade para mim) do James Morrison. Essa frase me pegou, porque muitas das vezes ou quase sempre, quando somos pegos ouvindo algo, achamos que é mais uma canção à toa, na receita de ingredientes como uma boa letra, melodias e arranjos. Mas ali, pode haver uma verdade por trás, seja do autor ou algo que o inspirou.

PE: Por qual selo está lançando o material?
André: Nosso material está sendo lançado pelo selo Coruja Atômica Records em parceria com o Microfonia Estúdio, do produtor Breno Santos. Inclusive, é dele a engenharia de som e mixagem. Ele conseguiu transpor exatamente o que buscávamos, timbragem e atmosfera.

Capa do single “The Frog Boys”. Foto: @wearedeadratts

PE: Mais uma bela parceria com o Microfonia Estúdio. Nossa última entrevista foi com a banda LeBruce, que recentemente também lançou single.
André: O Henrique teve uma breve passagem quando o Dead Ratts estava nos papéis, depois ele acabou seguindo para dar início ao LeBruce.

PE: Sobre os próximos passos da banda? Algum lugar para a estreia? Tem previsão de lançamento do próximo single?
André: No momento, a gente irá retornar ao estúdio para ensaiarmos e dar continuidade a algumas composições que estão 90% terminadas, mas talvez demore porque exatamente enquanto realizamos esse bate-papo, 5 dias atrás, nosso baterista Natan, acabou se acidentando de moto e quebrando o braço. Daqui para setembro queremos lançar uma próxima faixa que já está completa, “Mind Creep”.

PE: Massa e melhoras, Natan!

PE: André, para finalizar, temos duas perguntas que queremos manter tradição por aqui: No exercício da sua função, quem é a sua maior referência como vocalista?
André: Aí você me pegou, se bem que eu tenho dois caras que sempre fizeram parte como tutores indiretos para mim hehe: Mike Patton (Faith No More) e Maynard James Keenan (Tool/A Perfect Circle). Eu não consigo escolher somente um entre esses dois haha.

Mike Patton, é pela gama de vozes e em como ele faz soar as coisas quase como uma bola curva. Como sou um apaixonado pelo nu metal, por mais que ele não queira se intitular como o patrono do gênero, o Angel Dust (1992), com certeza foi a chave de virada para que surgissem bandas como Deftones, Korn, Papa Roach, Incubus e Sytem Of A Down.

Já sobre Maynard, o lado sarcástico e teatral muitas vezes influenciado por um dos artistas em que ele é apaixonado, falo de Peter Gabriel, Maynard conseguiu trazer isso de uma forma por vezes soturna, mas sempre em pequenas pitadas de alívio cômico. Eu diria que o Keenan no palco é uma mistura de Dave Chappelle (comediante) misturado e munido a carregar todo o niilismo e sua visão sobre a declinação social e no como falhamos. Essa dualidade por vezes me encanta e é algo que levo comigo!

E indique-nos um artista ou banda nova para a audição dos nossos leitores.
André: Vejamos, queria indicar duas bandas. O Ozu, que é uma banda brasileira incrível de trip hop e os americanos do The Post War.

PE: André, gostaria muito de agradecer a você pela participação do Entrevista PE. Desejamos boa sorte e muito sucesso ao Dead Ratts. Fale-nos as suas considerações finais.
André: Eu quem agradeço, em nome do Dead Ratts. Essas janelas são muito importantes para uma banda como a nossa que acabou de sair do forno.

Minha mensagem é que o rock sempre teve uma segmentação onde, em alguns gêneros, alguns grupos, são fechados para outros subgêneros e meu recado é: abram mais a mente para outros universos musicais. Música, sempre foi conexão, eu tenho a pretensão de crer que somente a música salva, não a religião e tampouco a política, então, que não venhamos criar abismos entre nós!


>>> OUÇA O SINGLE “THE FROG BOYS” <<<


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