Como grande parte do público deve saber, a banda paulistana Pholhas vinha, desde a sua formação em 1969, tocando em bailes e clubes e enriquecendo um repertório de covers em inglês, além de músicas autorais na língua estrangeira que até hoje é apreciada no Brasil.
Com uma média de 2 shows por semana, a banda não queria perder o pique e, mesmo com algumas pressões da gravadora para lançar algo que fosse a onda do momento, o Pholhas decidiu voar por terrenos que até então seriam novidade dentro de sua música. De fato, o quarteto paulista sempre seguiu o que estava em alta na época e, tocando em bailes com a média de dois shows por semana, a experiência instrumental seria inegavelmente um ponto muito forte no Pholhas.
Com a saída do tecladista original Hélio Santisteban decidindo seguir carreira solo, o cargo ficou para Marinho Testoni, ex-tecladista do Casa das Máquinas, músico de primeira linha que tinha um envolvimento corpulento com a música progressiva. Com a entrada de Marinho, a banda se estabilizou naquele ano de 1977 com Owaldo Malagutti (baixo), Paulo Fernandes (bateria), Wagner “Bitão” Benatti (guitarra e violão), com todos os integrantes revezando-se nos vocais.
Ensaiando todos os dias em um estúdio de 4 canais que fazia parte da enorme casa no bairro da Móoca, que o quarteto usava como escritório, agência de shows, estúdio de gravação e depósito de aparelhagem de palco, Oswaldo & Cia compuseram boa parte do que seria o autointitulado trabalho daquele ano, com um refinado som progressivo e que continha uma séria novidade: todas as músicas em português (o primeiro do grupo nesses moldes). Se de um lado a “ousadia” afastou alguns seguidores acostumados com o som mais soft que a banda praticava, de outro ganhou um público ainda mais fiel ao estilo.
Mesmo com um jogo de ganha e perde com certos lados positivos, “Pholhas” não vendeu nada. 300 a 500 mil discos vendidos era média da banda na década de 70, e isso não aconteceu com o tiro de rock progressivo dos caras. Certamente, 1977 foi um ano em que a situação do estilo caiu cada vez mais, sem espaço em FM’s e pelo cansaço das próprias bandas praticantes que viam os custos de turnê elevarem-se a níveis hiperbólicos, ajudando em massa pela “queda” (sim, entre aspas) do Prog Rock.
Mesmo assim, “Pholhas” é cultuado ainda hoje por amantes do estilo e o LP é muito difícil de encontrar e, quando encontra-se disponível, o valor para levá-lo dói o bolso e a disputa fica para os apreciadores, como eu.
Será interessante, mas quem quiser conhecer, apertar o play e deleitar em canções da magnitude de Panorama (com seu leve toque folk), Águas Passadas (teclados aqui são abundantes e lembra até mesmo Uriah Heep), Anoiteceu (influência de ELP destacando-se aqui, com a presença de um belo ritmo cativante) e Imigrantes (canção essa que mostra quebras intensas e viradas de bateria sem moderação).
Por Johnny Paul (Vinho & Vitrola)
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